quarta-feira, 22 de junho de 2011

"A Coceira de Zefinha", Capitulo II


  A COCEIRA DE ZEFINHA
(Ivanilson França Vieira)
CAPITULO 2

          - Vá com Deus, meu véi.  - Disse Zefinha com uma certa desolação, uma vez que não conseguira convencer Miro de que o melhor mesmo seria  ela ir, para que o Dr. Marcone pudesse ver o estado de como estar a sua pele.
          A distância entre a casa de Miro e o Posto de Saúde é de cerca de duas léguas e meia. Miro fazia esse percurso apenas uma vez por semana, quando ia visitar a sua irmã que morava na cidade e assistir a missa dominical. Vivia unicamente para a sua Zefinha e tirava o sustendo de casa no pequeno roçado herdado dos pais de Zefinha.
         Miro era um homem rude, já estava beirando os 60 anos. Ignorante aos extremos já havia matado três pessoas a golpe de peixeira. Uma delas, no forró na Fazenda de seu Gumercindo. Ele tinha levado Zefinha para o baile, pois ela, assim como ele, era exímia dançarina. Num determinado momento. Miro deixou Zefinha na mesa e foi ao banheiro. Quando voltou viu Chico Matraca forçando Zefinha a ir dançar com ele. Houve um bate boca e Chico o chamou de Corno. Em menos de 10 segundos os dois já estavam atracados numa luta corporal. Demorou muito para que a turma do deixa disso tirasse Miro de cima de Chico. Miro o pegou tão firme pela cintura e apertava tanto que Chico o esbofeteava as costas sem que Miro sentisse. Com muito sacrifício e depois de muito tempo a turma evitou que a luta se prolongasse. Ainda sentindo dores imensas nas costelas, depois confirmado pelo médico de que ele tinha quebrado três costelas e quando, ajudado pelos amigos, se afastara um pouco de Miro, Chico Matraca continuava chamando-o de Corno. Neste momento Miro diz que vai matá-lo e mesmo assim Chico matraca continuava xingando-o
Miro o matou na feira da cidade com mais de cinco cutucadas de peixeira. Foi absolvido, pois o seu advogado conseguiu provar a tese da legítima defesa da honra.
O dia já começara a raiar quando Miro ia entrando na cidade. Por onde passava dava “bom dia” a todos. Depois de quase duas horas de caminhada, com passadas firmes, Miro sorriu de satisfação, pois acabara de chegar ao Posto de Saúde, Sorriu vitorioso.
A caminhada foi grande, mas a prezer da chegada melhor ainda. Ao chegar ao Posto de Saúde, contou que havia 16 pessoas na fila.
         Godofredo era o último. Ele deu Bom Dia e perguntou:
         - Boin dia Seu Godô! A qui hora vai abrir?
         - Bom dia, seu Miro, O Dr. Carlos é diferente do Dr. Marconi, só chega lá pras 10 hora.
         - Dr. Carlos? Num é mais Dr. Marconi, não?
         - E tu num sôbi, não? O Dr. Marconi se aposentô já fai quage dois méis.
- E esse Dr. Carlos, quem é?
         - É diferente de Dr. Marconi, inxirido todo cum as muié. Tão tudo cum raiva dele. Diz muita prosa pras moça daqui. Já inté juraro ele de morte.
         - Égua, e agora qué qui eu faço?
         - Quá o pobrema, tas doente, é?
         - Não é Zefinha minha muié.
         - Coitada! O qui é qui a bichinha tem?
         - Ela ta um poquin doente, só
         - Sim mas é o que?
         - ô seu Godô, qui tanto interesse tem o sinhô pur minha  Zefinha? Tô istranhando o sinhô. Qué qui eu meta a pexêra no seu bucho inté sai as trita, qué? (Miro falou já com a mão na peixeira que ele sempre trazia na cintura).
         - Nan.. Nan.. Não Miro. Adiscurpe. Preguntei pru preguntá. Respondeu seu Godô fazendo o pelo-sinal.
         As horas demoraram a passar enquanto Miro, vez por outra, ficava pensando no porquê que Godofredo perguntara muito por Zefinha. Além do mais pensava também que se o Dr. Carlos é enxerido, ele nunca vai trazer a sua mulher para ele consultar. 
         A partir das dez horas, mais de cinqüenta pessoas foram atendidas antes de Miro. Ele ficava perguntando por que as pessoas estavam passando na frente dele e foi informado que eram pessoas que compravam a ficha a um funcionário do Posto que ficava retendo-as para vendê-las; Quando soube disso, Miro virou um bicho e foi direto falar com o funcionário.
-  Eu quero falá com o fio de Seu Jão da Cantina – esbravejou.
- Sou eu, o que o senhor quer?
- Quero uma ficha pro dotô
- O Senhor tem que ir pra a fila. Desculpe mas estou muito ocupado.
- Mai eu to na fila a as pessoa passa por mim e é atendido.
- Nada posso fazer, vá para a fila – Respondeu com desprezo Haroldo, filho de seu João da cantina.
- EU QUERO UM FICHA AGORINHA MERMO. (Gritou Miro, já juntando as golas da camisa de Haroldo com a mão esquerda e com a direita empunhando a faca, já triscando no queixo do rapaz que apavorado disse:
- Quantas fichas o senhor que?

SERÁ QUE MIRO VAI SER ATENDIDO?  SE FOR, COMO SERÁ A SUA CONVERSA COM O DOUTOR CARLOS?
VOCÊ VAI SABER NO TERCEIRO CAPÍTULO

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